A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse na quinta-feira (27), em entrevista exclusiva à CNN, que não vê sinais de uma recessão a curto prazo, com a economia do país se recuperando após seis meses de contração.
Durante uma entrevista concedida em Ohio, exibida no programa “Erin Burnet OutFront” da CNN dos EUA, Yellen afirmou que os dados do PIB do terceiro trimestre publicados na quinta-feira mostravam a força da economia do país. No momento, os políticos se movem com urgência para diminuir a inflação generalizada e crescente, que teve um forte efeito na opinião dos americanos sobre a economia. O cenário é uma ameaça para a maioria do Partido Democrata no Capitólio a menos de duas semanas das eleições de meio de mandato.
“O que estamos vendo agora é um crescimento sólido neste trimestre. O crescimento diminuiu obviamente após uma recuperação muito rápida do desemprego elevado”, afirmou Yellen ao ser questionada se os últimos dados do PIB suscitaram preocupações relacionadas com a recessão. “Estamos numa economia de pleno emprego. É muito natural que o crescimento desacelere. Foi assim nos primeiros três trimestres deste ano, mas continua a ser OK. Temos um mercado de trabalho muito forte. Neste momento, não vejo sinais de recessão na economia”.
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O otimismo de Yellen vem em meio a uma preocupação crescente por parte de economistas e atores do setor financeiro de que uma recessão provavelmente pode acontecer no ano que vem. A previsão se baseou nos últimos dados mostrando que o abrandamento necessário em áreas chave da economia deixavam um caminho aberto para um “pouso suave” – ao mesmo tempo em que o Federal Reserve segue o ritmo acelerado de aumentos de juros.
O PIB – a medida mais ampla da atividade econômica – aumentou para uma taxa anualizada de 2,6% durante o terceiro trimestre, de acordo com as estimativas iniciais publicadas na quinta-feira pelo Escritório de Análise Econômica. Os números representam uma reviravolta depois do declínio de 1,6% no primeiro trimestre do ano e de 0,6% negativos no segundo.
Mas a opinião de Yellen destacou também o complexo equilíbrio que o presidente Joe Biden e sua equipe econômica tentaram manter ao longo deste ano. A ideia era destacar uma rápida recuperação econômica e grandes vitórias legislativas, além de prometer o combate à subida dos preços.
“A inflação está muito elevada – ela é inaceitavelmente alta e os norte-americanos a sentem todos os dias”, afirmou Yellen quando perguntada sobre como o governo enxerga seu plano econômico aliado ao descontentamento crescente entre os eleitores. A secretária do Tesouro reconheceu que os preços demorariam tempo a cair, dizendo que os esforços para os reduzir para níveis “aos quais as pessoas estão mais habituadas” levarão provavelmente “os próximos dois anos”.
É uma realidade que tem erodido os esforços do governo para tirar partido de estatísticas positivas e robustas. Questionado sobre a economia na semana passada, Biden disse aos repórteres que ela está “forte como nunca”, atraindo críticas dos republicanos.
Yellen concordou com a avaliação do presidente de que a economia continua forte, sobretudo quando comparada com a luta de outras economias de todo o mundo.
“Se olharmos para o mundo inteiro, há muitas economias que estão de fato sofrendo não só com inflação alta, mas também com desempenho econômico muito fraco, e os Estados Unidos se destacam.
O desemprego está no menor nível em 50 anos. Vimos no relatório desta manhã que os gastos dos consumidores e com investimentos continuam subindo. Temos finanças domésticas sólidas, finanças empresariais, bancos que estão bem capitalizados”, listou. Parte inferior do formulário
E acrescentou: “Não é uma economia em recessão e continuamos indo bem”.
A secretária reconheceu também a frustração na cúpula do governo de que os esforços para afastar a economia dos EUA da crise não receberam os devidos créditos.
“Podíamos ter sofrido com vários problemas, com dificuldades que poderiam afetar muitas famílias americanas”, falou Yellen. “São problemas que não temos por causa do que o governo Biden fez. Portanto, muitas vezes não se dá crédito aos problemas que não existem”.
Yellen viajou para Cleveland como parte de um esforço do governo para destacar as principais vitórias legislativas – e lembrar das dezenas de bilhões de dólares em investimento do setor privado na indústria impulsionados justamente por essas políticas.
O esforço é fundamental na estratégia econômica concebida para resolver muitas das vulnerabilidades e falhas expostas na pandemia de Covid-19, com investimentos federais significativos em infraestruturas e o reforço – ou a criação a partir do zero – de novos elementos das cadeias de fornecimento.
Ao listar uma série de grandes investimentos do setor privado, incluindo a fábrica da Intel de 20 bilhões de dólares inaugurada em Columbus, Ohio, Yellen disse que “investimentos tangíveis e reais estão acontecendo agora”, mas seu pleno efeito pode demorar para aparecer.
Segundo ela, os resultados devem ser sentidos durante os próximos meses e anos na economia de todo o país. Perguntada se a mensagem geral do governo aos norte-americanos era de paciência, Yellen disse: “Sim”.
“Ao mesmo tempo, já dá para ver pontes reparadas, não em todas as comunidades, mas em breve [em todas]. Muitas regiões receberam melhorias em estradas e reparos em pontes à beira do colapso. Há um fluxo de dinheiro para pesquisa e desenvolvimento, que é realmente uma importante fonte de força a longo prazo para a economia americana. A força dos Estados Unidos vai aumentar e vamos nos tornar uma economia mais competitiva”, disse.
Yellen também abordou as linhas de batalha que foram traçadas esta semana com aumento do teto máximo da dívida. A questão é uma crise perpétua entre os poderes, com os republicanos da Assembleia se comprometendo mais uma vez a usar o tema politicamente caso consigam a maioria após a eleição.
“O presidente e eu concordamos que os EUA não devem ser mantidos reféns por membros de um Congresso que pensa ter o direito de comprometer a notação de crédito dos Estados Unidos e de ameaçar o não cumprimento dos títulos do Tesouro dos EUA, que são o alicerce dos mercados financeiros globais”, afirmou Yellen.
No entanto, Yellen, que já criticou várias vezes a natureza “destrutiva” dos confrontos entre os poderes, também apoia a redução total do limite da dívida através de legislação. Um grupo de deputados democratas escreveu aos líderes do próprio partido pedindo a discussão do tema na última sessão do atual congresso, mas Biden rejeitou a sugestão.
Questionada sobre a divisão, Yellen disse apenas que ela e Biden concordaram que “de fato cabe ao Congresso elevar o limite máximo da dívida”.
“É absolutamente essencial que isso seja feito e gostaria que ocorresse da maneira possível”, acrescentou.
Com o governo se aproximando de uma época em que, tradicionalmente, os principais nomes trocam de cadeiras, a secretária do Tesouro deixou claro que não pretende deixar o posto. Questionada sobre as reportagens que diziam que ela havia avisado a Casa Branca que queria ficar no próximo ano, Yellen respondeu que essa era “uma leitura precisa”.
“Estou muito entusiasmada com o programa de que falamos. Vejo nele um grande revigoramento do crescimento econômico, com a abordagem correta das mudanças climáticas e o fortalecimento das famílias americanas. E quero fazer parte disso”.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Exclusivo: Secretária do Tesouro dos EUA diz não ver sinais de recessão no site CNN Brasil.
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