Conforme amplamente esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (26) manter, mais uma vez, a taxa Selic em seu patamar atual, de 13,75% ao ano.
Sem surpresas, o anúncio consolida a visão de que a inflação deve continuar cedendo ao longo deste e do próximo ano, mas ao custo de uma taxa de juros que, se não vai mais subir, deve continuar neste nível mais elevado ainda por um bom tempo. É este o entendimento de analistas consultados pelo CNN Brasil Business.
“A Selic está em um patamar bastante contracionista e tanto o mercado, quanto o Banco Central, esperam que em algum momento isso vai gerar um efeito estruturalmente desinflacionário no Brasil”, disse o economista-chefe da Eleven Financial, Thomaz Sarquis.
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A visão da casa de análises é de que o Banco Central irá manter a Selic parada neste patamar até o final do primeiro semestre de 2023, fator que deve ajudar a aliviar os aumentos de preços.
“Do lado desfavorável, há uma força muito relevante vinda do cenário externo, com aumento de preços do petróleo e tensões geopolíticas, que joga contra a inflação brasileira”, disse Sarquis.
“Mas, a favor, há o próprio posicionamento do Banco Central, que mantem a taxa de juros alta por bastante tempo, além da possibilidade de alívio nos preços dos alimentos ao longo de 2023.”
Este foi o segundo encontro consecutivo em que o Copom optou por não mexer nos juros, depois de um ano e sete meses em que realizou 12 altas consecutivas na Selic.
Neste período, a taxa saiu de 2% ao ano, em março de 2021, para 13,75%, em agosto, no ciclo de alta mais veloz e mais intenso desde o início dos anos 2000.
O freio nos aumentos de juros acontece em um momento de alívio no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do país, depois de ter chegado a ultrapassar os 10% no início do ano.
Em setembro, o IPCA registrou seu terceiro mês seguido de queda, e, em 12 meses, acumulada agora alta de 7,17%. É um valor ainda acima no limite máximo de tolerância da meta estipulada pelo governo, que é de 3,5% com banda de tolerância entre 2% e 5%.
Na visão da economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, há espaço para que a Selic comece a cair ainda no primeiro semestre do próximo ano, mas isso dependerá de quais rumos serão tomados pelo novo governo, a partir do ano que vem, em relação ao controle dos gastos públicos.
“Na nossa avaliação, entre os riscos altistas para a inflação em 2023, uma potencial mudança no arcabouço fiscal, com aumento de gastos que estimule a demanda e desancore as expectativas, seria o mais impactante para desvirtuar o atual cenário de queda da inflação”, diz a economista.
“Mantemos nossa expectativa de redução da Selic entre março e maio de 2023, considerando o atual cenário de desaceleração mais rápida da inflação e a manutenção da consolidação fiscal em curso.”
A XP também menciona o mesmo fator – a manutenção da responsabilidade fiscal – como condicionante para que a inflação siga caindo no país e os juros não precisem ter suas reduções adiadas no ano que vem.
“Dado que a dívida e o serviço da dívida brasileiros continuam elevados, consideramos uma nova âncora fiscal (crível) como condição essencial para que as expectativas de inflação convirjam para a trajetória da meta”, escreveu a corretora em comentário enviado a clientes.
“Mantemos o nosso cenário de que a taxa Selic permanecerá em 13,75% até junho e diminuirá para 10% até ao final de 2023. A flexibilização monetária, porém, depende crucialmente da nova âncora fiscal”, continua a corretora, lembrando que ambos os candidatos que disputam o segundo turno para presidente neste domingo (30) já afirmaram que devem revisar o teto de gastos, regra que controla o crescimento das despesas do governo.
O economista e professor da Fipecafi Silvio Paixão lembra que a Selic alta representa, também, juros mais altos para os consumidores em empréstimos e crédito.
“A taxa de juros na ponta, do crédito, continua bastante salgada, o que pode procrastinar mais do que o desejável uma ampliação das expectativas positivas e, consequentemente, um maior crescimento do PIB no futuro”, disse.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Selic estável indica um longo período de juros altos, mas deve aliviar inflação no site CNN Brasil.
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