Bettina Harburger

Por Bettina Harburger * – O mercado internacional de telecomunicações está em forte transformação e deve converter qualquer ameaça em oportunidade, enfrentando diversos temas urgentes. Muito além da discussão entre capex e opex, as tecnologias, parcerias tecnológicas e fusões são as chaves do sucesso do setor. Muitos temas relevantes foram abordados no último MWC 2025, e proponho uma reflexão, trazendo uma analogia entre Brasil e Europa.

Os líderes das empresas de telecomunicações que compareceram ao Mobile World Congress, em Barcelona, pediram mais uma vez a consolidação da indústria para mantê-la competitiva na Europa. O CEO de um grande player europeu comentou que grandes empresas de telecomunicações “deveriam ter permissão para se consolidar e crescer, a fim de criar capacidade tecnológica”. Acrescentou ainda que, se as autoridades europeias não permitirem isso, “a posição da Europa no mundo continuará a diminuir e não terá a capacidade de decidir nosso futuro de forma autônoma”.

Outro CEO se inspirou em uma nova iniciativa de corte de custos do governo dos Estados Unidos para consolidar a indústria de telecomunicações:

“O que a Europa precisa é de um DOGE. Precisamos de uma iniciativa para reduzir essa burocracia e essa administração aqui, porque há dezenas de milhares de pessoas sentadas lá e administrando nossas indústrias”, acrescentou outro diretor.

Além da tecnologia GSM e das novas frequências 5G e 6G, surgiram novos players de banda por satélites de órbita baixa (Low Earth Orbit) – como os satélites da Starlink, OneWeb ou Amazon Kuiper – que operam em altitudes entre 500 e 1.200 km. Isso reduz a latência, tornando a conexão mais rápida, eficiente e de alta velocidade, podendo alcançar até 250 Mbps.

O mercado de serviços em nuvem está em constante evolução, com o cenário global dominado por um pequeno número de hyperscales – provedores de nuvem capazes de gerenciar infraestruturas enormes e em rápida expansão. Esses participantes, incluindo Amazon Web Services (AWS), Microsoft Azure, Google Cloud e Oracle, estão continuamente aumentando sua participação no mercado, enquanto os provedores de telecomunicações (telcos) e provedores de serviços de nuvem (CSPs) de Nível 2 tentam se adaptar a uma realidade cada vez mais competitiva. No entanto, em um contexto em que a edge computing e o 5G estão emergindo como tecnologias-chave para o futuro, alianças estratégicas entre empresas de telecomunicações e hyperscales devem desempenhar um papel crucial. A edge computing será um componente essencial para garantir que os dados possam ser processados de forma mais eficiente, perto da fonte, reduzindo a latência e melhorando a eficiência geral dos sistemas.

Ao mesmo tempo, alguns dos hyperscales e outros players de streaming também são foco de atenção no tema Fair Share Act, segundo o qual os grandes geradores de tráfego de internet (como provedores de conteúdo ou OTTs) deveriam contribuir financeiramente para os custos das redes de telecomunicações que utilizam, visando garantir o uso eficiente da infraestrutura e incentivar os investimentos. O tema foi amplamente discutido no MWC 2024 e 2025. No Brasil, isso se reflete na discussão sobre o Zero-Rating, já banido na Europa.

Na Europa e no Reino Unido, o segmento B2B e Governo tem destaque nas receitas das empresas, podendo representar até 25% do faturamento, segundo alguns players. No Brasil, porém, a capilaridade favorece o foco no mercado B2C. Ainda assim, o B2B e Governo deve ser a origem das maiores taxas de crescimento.

Não podemos esquecer que os primeiros sinais de consolidação ocorreram nas redes móveis em 2013, quando grandes grupos de infraestrutura e investimento formaram consórcios para adquirir os sites móveis e antenas do mercado brasileiro. Até então, cada operadora era responsável por sua própria rede móvel, e, por meio de acordos e normativas da Anatel, os serviços passaram a ser compartilhados. São mais de 80 mil sites em operação no Brasil, com destaque para American Tower, SBA e Highline. Na Europa, esse fenômeno ocorreu um pouco antes, com players como Cellnex, Vantage, Inwit e American Tower-EU, que operam mais de 200 mil sites.

Após esse processo, a indústria global de telecomunicações testemunhou uma onda de fusões e aquisições (M&A) e spin-offs nos últimos anos, impulsionada pela necessidade de expansão de infraestrutura, redução de custos (licenciamento, operação, manutenção) e posicionamento competitivo. A seguir, uma visão da evolução dessas operações desde 2020, com foco no Reino Unido, Europa e Brasil:

Reino Unido

Itália

Espanha

Alemanha

Brasil

Portanto, espera-se que o futuro das fusões e aquisições de telecomunicações continue impulsionando o setor, guiado pela expansão do 5G, pelos investimentos em fibra óptica e por realinhamentos estratégicos. Embora ainda existam obstáculos regulatórios, gigantes das telecomunicações e empresas de private equity estão se posicionando para crescer no cenário digital em constante evolução.

Observa-se ainda a oferta crescente de serviços de cross-selling, que vão de conteúdo de mídia e entretenimento a novos serviços financeiros, seguros e utilidades, como novas fontes de receita.

 

* Bettina Harburger é executiva, trabalha na Telecom na Itália e mora em Roma desde 2017.

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